Vivemos constantemente conectados ao mundo virtual. Temos
acesso à comunicação instantânea, músicas, fotos, internet e redes sociais na
palma das mãos com os tão populares smartphones. Com isso, fala-se cada vez
mais a respeito das complicações que o uso frequente dos aparelhos pode trazer
para a coluna vertebral.
Descritas no inglês como tech neck, tais complicações são
dores cervicais relacionadas ao mau posicionamento da cabeça ao usar o celular.
O número de consultas médicas vem aumentando cerca de 40% nos últimos anos,
principalmente entre pacientes jovens, com queixa de dor cervical. Tipicamente,
a incidência dessa queixa aumenta com a idade, mas cada vez mais jovens têm relatado
esse desconforto nos consultórios.
A postura correta é fundamental para evitar o problema. É o
que explica o médico Fernando Dantas, neurocirurgião do corpo clínico do Biocor
Instituto. “A nossa coluna vertebral apresenta curvaturas fisiológicas em cada
nível. Temos a lordose cervical, a cifose torácica e a lordose lombar, dando à
coluna o aspecto da letra ‘S’. Essa anatomia é muito importante para suportar e
distribuir as cargas de forças que são aplicadas à coluna diariamente. Os
músculos do pescoço são designados para suportar o peso da cabeça, que, no ser
humano, pesa em média 4,5 quilos a 5,5 quilos. Nem o pescoço nem os ombros
estão adaptados para sustentar esse peso durante longos períodos com a cabeça
inclinada para frente”, diz.
Segundo o especialista, as forças exercidas sobre a coluna
cervical são variáveis de acordo com a posição da cabeça. “Na posição neutra,
ou seja, com zero grau de angulação (como uma pessoa olhando na linha do
horizonte), temos uma carga na coluna de cerca de 26 quilos e, à medida que
essa angulação aumenta, a força aumenta. Na angulação de cerca de 60 graus –
posição em que as pessoas usam os smartphones – a força pode chegar a 132
quilos, alterando a curvatura natural do pescoço”, explica. Levando em conta
que uma pessoa usa o smartphone por cerca de duas a quatro horas por dia com a
cabeça baixa, a somatória de um ano corresponde de 700 horas a 1.400 horas de
excesso de estresse sobre a coluna cervical.
O médico alerta que, com o tempo, esse mau alinhamento da
coluna pode causar problemas às estruturas do pescoço, favorecendo o
aparecimento de dor cervical e lombalgia, em virtude da mudança do alinhamento
da coluna, ficando a região cervical inclinada para a frente: “Ao realizar
exames
radiológicos da coluna podemos verificar a perda da lordose
cervical com a presença de uma coluna reta ou mesmo com a inversão dessa
curvatura. Ainda não há estudos comprovando essa relação, mas, provavelmente
aparecerão com o tempo”. Além da coluna, também colocamos nossa visão em tensão.
Os músculos da face e dos olhos são ligados ao crânio e à região cervical,
motivo pelo qual as contrações do olhar repetidas vezes durante o dia podem
desencadear dor de cabeça, distúrbios do sono e tonteiras.
As mãos também podem sofrer com o uso constante dos
celulares. “Em 2011, muito se falou a respeito da síndrome do ‘Blackberry
thumb’, também conhecida como síndrome de Quervain, da qual o paciente relatava
dor na mão e dormência ou dificuldade para escrever devido a uma inflamação do
tendão, conhecida como tenossinovite radial estiloide.”
Entre as formas de prevenção das dores cervicais, correções
da postura são essenciais: ao usar o smartphone, a tela deve ficar na altura
dos olhos e deve-se evitar atender o telefone usando apenas os ombros, com a
cabeça inclinada para um lado. Alguns movimentos de rotação do pescoço para
relaxar a musculatura podem ser feitos após o uso do aparelho.
Se houver alguma dor mais insistente, um médico deve ser
consultado. “Se você faz uso constante do smartphone e está sofrendo com dores
cervicais persistentes, procure um médico, que ele vai orientar, medicar,
solicitar exames se necessário e avaliar o seu encaminhamento a um fisiatra ou
um fisioterapeuta para exercícios de correção da postura, reforço muscular e medidas
antálgicas. O mais importante de tudo é usar o celular moderadamente e na
postura correta, para evitar problemas futuros”, indica Fernando Dantas.
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