terça-feira, 27 de maio de 2014

Escoliose em adultos: doença não surge apenas na infância e na adolescência

Enquanto a escoliose em crianças é muitas vezes descoberta durante uma triagem, a escoliose em adultos normalmente é descoberta quando a dor ou desconforto exigem uma visita ao médico

De repente, você começa a notar mudanças no seu corpo: um quadril maior que o outro, uma perna da calça maior que a outra e, além de tudo isso, você encolheu cerca de um centímetro no último ano.

“Diagnóstico: escoliose na idade adulta, uma curvatura assimétrica da coluna vertebral que, se não for controlada ou tratada, pode eventualmente deixar o paciente ainda mais baixo e torto, cheio de dores na coluna, e dependente de um andador para manter o equilíbrio”, afirma o neurocirurgião especializado em coluna, Cezar Augusto de Oliveira (CRM-SP 123.161).

Embora a escoliose seja geralmente considerada como um problema de adolescentes, que muitas vezes necessitam de órteses ou de cirurgia para corrigir a curvatura, a condição é na verdade muito mais prevalente em idosos. Num estudo realizado por ortopedistas do Maimonides Medical Center no Brooklyn, com 75 voluntários saudáveis ​​com mais de 60 anos de idade, 68% tinham deformidades da coluna vertebral que atendiam à definição de escoliose: uma curvatura desviada verticalmente em mais de 10 graus.

Estudos anteriores relataram uma prevalência de escoliose em idosos de até 32%. Estas revisões podem ter incluído adultos mais jovens do que aqueles do estudo feito no Brooklyn, cuja idade média foi de 70,5 anos e que não apresentavam nenhuma dor ou prejuízo relacionado com a sua condição espinhal.

Ao contrário do paciente mais jovem ou adolescente com uma deformidade na coluna vertebral, o idoso apresenta-se com um conjunto completamente diferente de problemas e desafios para o médico.

“Seja qual for a taxa real, a prevalência de escoliose em adultos é alta e deverá aumentar com o envelhecimento da população. A causa mais comum de deformidades da coluna vertebral decorrente do envelhecimento é a degeneração dos discos entre as vértebras e, por vezes, das próprias vértebras”, explica o médico.

Ao contrário de escoliose na juventude, que aflige muitas mais meninas do que meninos, a escoliose em adultos afeta homens e mulheres em proporções mais ou menos iguais. Alguns tinham escoliose quando eram crianças. A doença estava estabilizada, mas voltou a progredir novamente a medida em que a idade avança e provoca  seus efeitos sobre a coluna vertebral. No entanto, a maioria dos adultos com escoliose apresentava coluna com aspecto normal na juventude.

Segundo Cezar de Oliveira, um corpo deformado é a consequência menos grave da escoliose. “A doença pode resultar em dor incapacitante nas nádegas, costas ou pernas, e neuropatia, uma ruptura da função quando um nervo espinhal é comprimido entre as vértebras. A neuropatia deve ser tratada sem demora, para evitar a morte do nervo e uma perda permanente de função”, alerta o médico, que também é membro da Sociedade Brasileira de Coluna.

Enquanto não há nenhuma maneira infalível de prevenir os casos de escoliose em adultos, certas condições podem ser prevenidas, minimizando as chances da doença se desenvolver. “Uma delas é a obesidade e o sobrepeso, a outra é o tabagismo. A terceira causa para o surgimento da escoliose na idade adulta é a falta de aptidão física, resultando em músculos fracos no núcleo do tronco”, observa o neurocirurgião.

Outros fatores de risco incluem o desgaste provocado pela osteoartrite e pela osteoporose. Pessoas que se submetem a cirurgias de coluna para remover um tecido pressionado entre os nervos, por vezes, desenvolvem desequilíbrios na coluna vertebral. Uma lesão da medula que deforma vértebras também pode levar à escoliose.

Tratamento da escoliose em adultos

“Normalmente, os adultos não procuram tratamento para escoliose até que desenvolvam sintomas, os mais comuns são dor lombar, rigidez e dormência, cólicas ou dor aguda nas pernas. Aqueles que são afetados frequentemente com esses sintomas inclinam-se para frente com regularidade para tentar aliviar a pressão sobre os nervos afetados”, ensina o médico.

Outras pessoas afetadas com escoliose inclinam-se para frente porque perdem a curva natural em sua parte inferior das costas. “Esta postura de compensação, por sua vez, pode esticar os músculos na parte inferior das costas e pernas, causando fadiga e dificuldade para realizar tarefas rotineiras”, observa Cezar de Oliveira.

Exercícios que fortalecem os músculos do núcleo - aqueles do abdômen, costas e pélvis - ajudam a apoiar a coluna e podem reduzir o risco de desenvolver escoliose, bem como prevenir ou minimizar os seus sintomas.

A maioria das pessoas que desenvolve sintomas da escoliose pode ser tratada eficazmente com medicação para dor e exercícios para aumentar a força e a flexibilidade. A órtese não é recomendada para a escoliose na fase adulta porque pode enfraquecer ainda mais os músculos do núcleo.

“O tratamento cirúrgico é reservado para aqueles com sintomas incapacitantes não aliviados pelo tratamento conservador. A cirurgia, muitas vezes, envolve a fusão espinhal para aliviar a pressão sobre os nervos afetados. É mais arriscada em adultos do que em adolescentes com escoliose e os índices de complicações são maiores e a recuperação é mais lenta, de acordo com a Sociedade de Pesquisa em Escoliose”, informa o neurocirurgião.

Mas, segundo o médico, progressos estão sendo feitos no desenvolvimento de medidas menos invasivas para tratar a escoliose em adultos, incluindo o uso de substâncias biológicas que estimulam o crescimento ósseo e a regeneração das vértebras.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Melhora da produtividade no trabalho após a cirurgia de hérnia de disco

Estudo relaciona a produtividade do trabalhador com a cirurgia na coluna

Anualmente, mais de 10 milhões de pessoas sofrem com dor nas costas, nos Estados Unidos. Desse contingente, cerca de 200 mil são submetidos à uma cirurgia de coluna para aliviar a dor provocada pela hérnia de disco. A cirurgia para remover o disco danificado ou herniado é considerada a maneira mais eficaz de melhorar a qualidade de vida desses pacientes, nos casos em que o tratamento conservador é ineficaz.

Mas, até agora, pouco sabíamos sobre os benefícios sociais da cirurgia sobre a produtividade no local de trabalho. Um novo estudo descobriu que os ganhos anuais médios estimados dos pacientes que se submetem à uma cirurgia de hérnia de disco são de 47.619 dólares, em contraposição a 45.694 dólares daqueles que se submetem a tratamentos não-cirúrgicos. Portanto, o ganho anual é maior em 1.925 dólares para os pacientes que optam pela cirurgia de hérnia de disco. Além disso, os pacientes que se submeteram à cirurgia perdem menos dias de trabalho a cada ano, em comparação aos pacientes que optam pelo tratamento não cirúrgico.

O novo estudo, publicado na revista The Journal of Clinical Orthopaedics and Related Research (CORR) sugere que o tratamento cirúrgico para a hérnia de disco aumenta os ganhos médios anuais e reduz o número de dias perdidos de trabalho entre os empregados que apresentam dor nas costas. 

Os autores de How Does Accounting for Worker Productivity Affect the Measured Cost-Effectiveness of Lumbar Discectomy? consideram que estas cirurgias são rentáveis ​ ​e podem resultar em economia para a sociedade quando a dor nas costas do paciente é aliviada, a longo prazo. O estudo constatou que, durante um período de quatro anos, a cirurgia resultou em compensações de custos de mais de 5.000 dólares devido a maiores ganhos para os pacientes que fizeram a cirurgia.

Para conduzir o estudo, os pesquisadores revisaram a literatura sobre o tema e empregaram dados de estudos anteriores. Os dados coletados foram aplicados ao modelo de decisão de Markov, onde eles estimaram os custos diretos e indiretos associados ao tratamento cirúrgico e ao tratamento não-cirúrgico para a hérnia de disco, comparando os custos com a renda familiar, os dias de trabalho perdidos e os pagamentos por invalidez .

“A dor nas costas provocada pela hérnia de disco é uma das condições mais dolorosas e incômodas para o paciente, uma vez que tanto em pé, quanto sentado, a dor pode se agravar. Como resultado, se o paciente trabalha em pé ou sentado em uma mesa, a dor nas costas pode afetar em cheio sua capacidade de trabalhar”, explica o neurocirurgião especializado em colua, Cezar Augusto de Oliveira (CRM-SP 123.161).

Segundo dados do estudo, a dor provocada por uma hérnia de disco faz com que o empregado médio perca 26 dias de trabalho a cada ano e passe 34 dias na cama, afastado do trabalho. “Já a cirurgia de hérnia de disco, quando bem indicada, pode diminuir a dor, aumentar a produtividade e reduzir o número de dias de trabalho perdidos. 

Este estudo reforça o que o corpo de pesquisa vem indicando, ao longo dos anos, que a cirurgia para reparar a hérnia de disco é eficaz e de baixo custo”, afirma o neurocirurgião.

Um pouco mais sobre a hérnia de disco

A hérnia de disco lombar é uma patologia de alta incidência na população de adultos jovens, entre 20-40 anos, pois nesta idade é comum a ruptura do ânulo fibroso (porção externa do disco) em atividades rotineiras como levantar um peso, ficar muito tempo sentado, trocar um móvel de lugar, etc.

“Nesta faixa etária, a porção interna do disco (núcleo pulposo) encontra-se bastante hidratada, quando ocorre a ruptura do ânulo externo, este material pode extravasar e causar a compressão de uma raiz nervosa, fisiopatologia da hérnia de disco extrusa. Quando este fragmento extravasa, é gerado um processo inflamatório associado à compressão da raiz nervosa, como consequência isto gera dor no trajeto cutâneo inervado por esta raiz (dermátomo). O nome clínico deste sintoma é ciatalgia ou dor ciática, dor que inicia em região lombar ou glútea e se irradia pela face posterior da coxa, perna e pode chegar até o pé”, explica o médico, que também é membro da Sociedade Brasileira de Coluna.

Em geral, a dor aguda dura poucos dias e o alívio é gradual em 1-4 semanas, em torno de 90% das vezes isto pode ser controlado com medicação e o material herniado (extravasado) volta para o interior do disco.

Já os casos de dor refratária, que não passam com medicação ou que estão causando muita compressão radicular (sintomas de adormecimento da perna, dificuldade em movimentar o pé, alterações do reflexo aquileu ou sintomas esfincterianos) podem necessitar de cirurgia com o intuito de aliviar a dor e prevenir sequelas neurológicas.

“Sintomas de dor e anormalidades sensoriais normalmente não requerem intervenção imediata, mas os pacientes que têm fraqueza significativa, evidências de síndrome da cauda equina ou de um problema progredindo rapidamente podem necessitar de tratamento cirúrgico mais rápido. A cirurgia é realizada para remover a hérnia de disco e liberar espaço ao redor do nervo comprimido. Dependendo do tamanho, da localização da hérnia e dos problemas associados (estenose espinal, artrite), a cirurgia pode ser realizada com o emprego de diversas técnicas. Em casos mais simples, a discectomia endoscópica ou a microdiscectomia  da hérnia de disco podem ser possíveis. No entanto, em alguns casos, uma cirurgia maior, como a discectomia aberta com colocação de parafusos, pode ser necessária”, explica Cezar de Oliveira.

Segundo o médico, hoje, novas técnicas cirúrgicas permitem que o cirurgião possa realizar um procedimento chamado de discectomia endoscópica. “Em uma discectomia endoscópica, o cirurgião utiliza instrumentos especiais e uma câmera para remover a hérnia de disco através de incisões muito pequenas. A microdiscectomia endoscópica é um procedimento semelhante à discectomia aberta tradicional, que retira a hérnia de disco, mas utiliza-se de uma incisão menor. 

Ao invés de realmente olhar para o fragmento de hérnia de disco e removê-lo, o cirurgião utiliza uma pequena câmera para encontrar o fragmento e instrumentos especiais para removê-lo. O procedimento não requer anestesia geral, é feito através de uma pequena incisão, com menos dissecção dos tecidos. O cirurgião utiliza o raio-x, a câmera e instrumentos especiais para remover o fragmento do disco. A microdiscectomia endoscópica é apropriada em algumas situações específicas, mas não em todos os casos. Muitos pacientes são mais beneficiados com uma discectomia aberta tradicional”, explica o neurocirurgião, especializado em coluna. 

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